COM QUE ROUPA EU VOU?

COM QUE ROUPA EU VOU?



Há alguns anos tive o prazer de assistir uma palestra de um ilustre professor de filosofia da Universidade Federal da Bahia, chamado José Antônio – SAJA, Doutor em Letras pela Universidade Federal da Bahia, Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia e Decano do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Cujo título, se não me trai a memória era: “DÊ-ME O SUPERFLUO QUE EU ESQUEÇO O ESSÊNCIAL”, nessa palestra ele nos falou que o carnaval da Bahia estava se tornando um evento para alguns poucos privilegiados. Para começar, a idade permitida para participar estava sendo determinada entre os quatorze e os vinte e cinco anos de idade, não mais permitindo que aqueles que, como eu, há muito já passou dessa idade, mas que ainda gosta de ver ou brincar o carnaval. Mas observo que os artistas que estes mesmos jovens cultuam tanto, seguem por toda a avenida, já passaram dos trinta anos há tempos.

Em outra oportunidade tive a grata satisfação de ouvir a palestra “PELOURINHO: DO OLHAR AO VÊR”, do prof. Carlos Linhares, Bacharel em Filosofia pela UCSal, Mestre em Sociologia pela UFBA e Doutor em Ciências Sociais e Saúde pela mesma instituição, Linhares é especialista em Processos Grupais e Coordenação de Grupos Operativos. Realizou cursos de Psicologia de Grupos na Pontifícia Universidad de Salamanca, Espanha, e em Psicologia da Educação, na Universitá Salesiana de Roma, Itália, onde ele discorria sobres os costumes dos tempos colônias pelas terras da Bahia e, fazendo um contraponto entre esses costumes e o carnaval nos dias de hoje. Falou-nos que os nobres andavam em liteiras, eram móveis domésticos – ou seja, cadeiras – que iam à rua. Geralmente eram transportadas nos ombros de negros escravos. Paralelamente, para as distâncias maiores foram adotadas as liteiras, de tração animal, com espaço interno para duas pessoas. As liteiras chegaram a ser usadas até o início do século XX nas regiões rurais do país. Não era elegante, nem nobre pisar no chão àquela época, coisa deixada para as pessoas de classes mais baixas e os negros. Os bem nascidos ficavam nas janelas dos palacetes a cuspir e jogar imundícies nos pobretões que passavam embaixo. Mudamos muito pouco desde então, substituíram as liteiras por cordas, os escravos por “cordeiros”, as sacadas dos palacetes pelos “camarotes”, estes tão ou mais luxuosos do que os palacetes, alguns custam verdadeiras fortunas para se ter acesso as mais diversas mordomias, algumas sem qualquer sentido para uma festa como o carnaval e por fim, mas não menos importantes, os abadas que substituíram as casacas, porém, representam da mesma forma um símbolo de nobreza e status. Ah! Não vamos nos esquecer do “pipoca”, denominação para aqueles milhares de anônimos que vão atrás dos Trios Elétricos, mas que são mantidos afastados dos “nobres” pelas cordas que cercam os blocos. A semelhança com os maltrapilhos dos tempos em que éramos a primeira capital do Brasil será mera coincidência?!

Enquanto estava escrevendo estas mal traçadas linhas, vejo ao meu lado uma revista que trás na capa o título: “VAI FERVER ALEGRIA NAS RUAS DA BAHIA”, dentro o artigo que diz "...Mas, sobretudo, a força maior é a intensa participação popular, misturando culturas e gente do Brasil e do mundo – de todas as origens, matizes e credos. Por tudo isso o carnaval de Salvador é considerado a maior festa de rua do planeta. Está no Guiness Book, o Livro dos Recordes...” (grifo nosso).

Lendo a entrevista “A GENTE PRECISA DEMOCRATIZAR A ALEGRIA” do antropólogo baiano Jaime Sodré, PhD em História da Cultura Negra, professor da UNEB e CEFET, Doutorando em História Social. Faço aqui uma reflexão sobre o que mudou nos desde os tempos do Brasil colônia, muito pouco ou quase nada a exclusão ainda se dá de diversas formas, os preconceitos são maiores porque englobou não só negros, mas também, os menos favorecidos, os milhões de “pipocas” que querem apenas ter um pouco de alegria nestes dias de carnaval.

Peço licença ao ilustre compositor Noel Rosa para, parodiando a letra de um bonito samba de sua autoria, digo: “...Com que "abada" eu vou pro carnaval que você não me convidou?”.

Jonathas Monteiro do Carmo
Disciplina: Antropologia e Educação
Prof.: Lúcia Góes
Data: 10/03/2009

REF.
Muito – Suplemento do jornal “A Tarde”, 22/02/09 – entrevista com Jaime Sodré.
www.institutofeminino.org.br
www.amatras5.org.br/amatras5/noticias
www.museuhistorianacional.com.br

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